Dayana Melo – Mar/2011
“O Diabo Veste Prada”
não é um filme necessariamente para mulheres, nem indicado apenas para o
público que entende de moda, e sim um filme que diverte o público em geral. Na
minha primeira impressão sobre o filme, achei que fosse mais um “filminho”
qualquer, mas o que realmente temos é um filme bem produzido, com ótimas
interpretações e textos, com um belíssimo cenário e com um tema muito
interessante.
O humor do filme se
origina nas crescentes e impossíveis exigências da chefa Miranda, e das
tentativas de sua assistente Andréa em
satisfazê-las. Apesar da leveza do
filme, tem algo de interessante e sério a mostrar, que é a falsidade da
personalidade no local de trabalho, e sobre quem as tolera.
Aquelas pessoas
ambiciosas, chatas, temperamentais, aborrecidas, arrogantes e exigentes, sempre
são postas como indesejadas. Principalmente se uma delas for o seu (sua) chefe
(a). Daí para achá-la o próprio diabo que veio a terra para infernizar e
dificultar sua vida é um passo. Miranda é a "monstra" no filme. Para
aqueles que já trabalharam para um patrão indesejável em todos os sentidos, vão
apreciarem esta leve e espirituosa comédia.
A protagonista do
filme, Andréa, é uma jornalista recém-formada, que vai para New York atrás de
seu sonho de ser jornalista, mas que acaba como assistente da editora da tal
revista de moda, já que a lenda é que esse trabalho abre qualquer porta depois.
Determinada a vencer, ela agarra a oportunidade com unhas e dentes e só percebe
o preço de sua escolha, quando vê seus relacionamentos acabarem.
Como conciliar mundos
tão distintos, uma vez que desejar vencer como profissional não é nenhum
crime? O filme não mostra claramente essa resposta, mas depois de visto o
filme, não precisa ser nenhum gênio para saber interpretá-la da devida forma.
Miranda é que dá um
belo impulso ao filme e para a protagonista Andréa. Desde a sua primeira cena
do filme até a última, ela esbanja beleza, charme e ousadia, e o mais
importante, muita maldade no ar. Sinceramente, os méritos vão à bela atuação da
atriz, que compôs muitíssimo bem o seu papel.
Tanto Miranda quanto
Emily (a 1ª assistente) transmitem a Andréa os piores trabalhos, mas
evolutivamente a garota vai conquistando a confiança da poderosa editora e
ultrapassando o potencial de Emily, mas a jornalista paga um alto preço por sua
transformação em um ‘saltinho’, cobrada sem demora por seu namorado e pelos
antigos amigos.
A sociedade
capitalista, seduz principalmente as mulheres por cauda da grande repercussão
da moda no mercado social/industrial. Mas isso de fato não acontecia com
Andréa antes de mudar para New York. Para se vencer hoje em dia é preciso pagar
um preço caro, e ela pagou.
Então vamos ao que
interessa. Miranda a editora chefa da revista de moda Runaway, não é
"diabo" como o título do filme rotula. Ela é apenas uma mulher
obcecada pelo trabalho, exigente consigo mesmo e com os outros. E faz sua nova
assistente Andrea comer o pão que o diabo amassou, para provar o quanto é boa e
eficiente.
Esta comédia levanta
questões interessantes. Afinal, Miranda é vista como o diabo, porque é mulher.
E se fosse um homem, será que suas ações seriam vistas assim? Certamente, não.
O machismo sempre perseguirá as mulheres e nesse filme, as duas (Andréa e
Miranda) são vitimas dessa sociedade preconceituosa.
O filme é engraçado,
ágil, sedutor e se não fosse o moralismo do final, seria um pouco precipitado.
Tirando a causa que o filme motiva, ele pode ser considerado sim, um bom
programa.
Tenho certeza que você
já usou alguma roupa para impressionar alguém (chamar a atenção). Somos
carentes sim de atenção. Tenho a impressão que o melhor caminho é aceitação da
nossa humanidade e dos nossos semelhantes sob a nossa personalidade. Afinal, é
sempre bom lembrar que a "humildade é a verdade".
De fato, a ditadura da
moda já está lançada na sociedade atual. Um caso curioso que poço analisar é da
recente tragédia no Rj que mobilizou todo o Brasil; em Realengo, o ex. aluno
Welington Menezes invadiu sua ex. escola, matando e ferindo por volta de 20
alunos e depois se mata. O alvo dele eram matar meninas. Segundo uma carta
deixada, ele conta que gostaria que seus parentes doassem para uma instituição
a casa que ele morava; mostra muita compaixão com animais indefesos,
desvaloriza os humanos em geral; mostra carinho com os falecidos pais; conta de
sua virgindade aos 24 anos; e enfim, mostra ser uma pessoa consciente,
religiosa e revoltada. Ele tinha um estilo próprio; com barba grande e roupas
simples. Poço afirmar que 99,999... % das pessoas que viram a notícia se
revoltaram contra o assassino, algumas até choraram e se perguntaram o porquê
dessa banalidade cruel. Eu penso que ele foi mais uma vítima da sociedade
capitalista. Segundo alguns indícios, por sua amarga aparência, na infância ele
sofreu na escola o bule e o desprezo até então das mulheres. Agora, eu pergunto
para refletir; e se não houvesse esse preconceito contra ele por parte de
todos; será que ele seria revoltado a ponto de fazer tamanha crueldade? E se na
escola tivessem cortado o mal pela raiz, mesmo tendo transtornos psicóticos,
será que chegaria até esse ponto? Provavelmente não. As pessoas tendem a rejeitar
tudo o que é diferente e que não se encaixa em seus padrões de vida. Quem opta
por ter seu próprio estilo, independente do que dita a moda ou os padrões
sociais, tem que aprender a lidar com isso e digo mais, Welington não soube
lidar com isso, e pode ser sim uma resposta que todos querem saber. Em nenhum
momento eu estou tentando justificar o ocorrido, e sim tentando entender o que
de fato ocorreu.
Tudo que é diferente
gera transtorno na sociedade. Tudo o que é considerado anormal pelo padrão de
sociedade gera um preconceito. Não se deixem iludir pela ditadura da moda
imposta pela mídia e sejam muito felizes com seu próprio estilo.